A Importância da Semana de Descarga (Deload Week) em Programas de Treinamento de Força e Hipertrofia
- Bruno Trindade
- 16 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de out. de 2024
A deload week é uma estratégia recomendada para programas de treinamento que envolvem alta intensidade e carga acumulada, especialmente em modalidades como powerlifting, bodybuilding e fitness funcional. A prática consiste em uma redução planejada de volume e/ou intensidade por um curto período, geralmente uma semana, para permitir a recuperação e prevenir o acúmulo de fadiga. Embora a deload não seja uma necessidade absoluta para todos os atletas, sua aplicação adequada pode promover adaptações mais eficazes e longevidade no treinamento (Meeusen et al., 2013; Bell et al., 2023).
Fundamentos Fisiológicos da Deload Week
Durante treinos intensos, o corpo acumula estresse físico e mental, gerando microlesões musculares e sobrecarga no sistema nervoso central (SNC). Esse acúmulo pode levar a um estado de overreaching funcional (FOR), onde há queda temporária de desempenho, mas recuperação rápida e ganhos futuros. No entanto, se não houver tempo de recuperação adequado, o atleta pode entrar em overreaching não-funcional (NFOR) ou desenvolver a síndrome do overtraining (OTS), condições mais graves que requerem semanas ou meses de recuperação (Meeusen et al., 2013).
A deload week permite que o corpo se recupere antes que a fadiga se torne crônica, facilitando o processo de supercompensação e garantindo que o atleta volte ao treinamento mais forte e preparado para cargas maiores. Estudos indicam que a deload é especialmente eficaz para manter a performance e evitar lesões, proporcionando um equilíbrio entre estresse e recuperação (Rogerson et al., 2023; Coleman et al., 2024).

Estratégias de Aplicação
A aplicação de uma deload pode variar conforme o nível e o objetivo do atleta, utilizando-se duas abordagens principais:
Redução de Volume: Diminui o número de séries e repetições, mantendo a intensidade elevada.
Exemplo: Reduzir de 5 para 2 séries por exercício, mantendo 80-85% do 1RM.
Redução de Intensidade: Reduz a carga utilizada, mas mantém o volume semelhante ao das semanas anteriores.
Exemplo: Utilizar 50-60% do 1RM, mantendo o mesmo número de séries e repetições.
Uma abordagem combinada é comum para atletas que acumulam altos volumes e intensidades, promovendo uma recuperação mais completa (Rogerson et al., 2024). Outra alternativa é a autorregulada, na qual o atleta ajusta a carga e o volume de acordo com a percepção de fadiga, utilizando conceitos como repetições em reserva (RIR) (Bell et al., 2023).
Diferença entre Deload e Tapering
Embora deload e tapering compartilhem o objetivo de recuperação, seus usos diferem em contexto e propósito. O tapering é aplicado próximo a competições para maximizar a performance, enquanto a deload é uma prática contínua dentro do ciclo de treinamento, focada na manutenção da progressão e na prevenção de fadiga excessiva (Meeusen et al., 2013). A aplicação simultânea de ambas as estratégias é possível, mas precisa ser cuidadosamente planejada para atender às necessidades do atleta (Bell et al., 2023).
Vantagens em Diferentes Modalidades
A deload é amplamente adotada em modalidades como fitness funcional, powerlifting, bodybuilding e strongman, onde o acúmulo de fadiga pode impactar diretamente o desempenho. Atletas intermediários e avançados se beneficiam mais dessas pausas estratégicas, enquanto iniciantes podem não precisar de deloads frequentes. Estudos sugerem que pausas completas podem ser menos eficazes para a manutenção da força máxima, recomendando-se, em vez disso, a aplicação de reduções moderadas na intensidade e no volume para manter a adaptação contínua (Coleman et al., 2024).
Conclusão sobre Deload Week
A semana de deload é uma ferramenta valiosa em programas de treinamento periodizado, permitindo a recuperação necessária para sustentar o desempenho e evitar lesões. Embora sua aplicação não seja obrigatória para todos os atletas, ela é especialmente eficaz para indivíduos que treinam com alta intensidade e volume. A flexibilidade e a individualização são essenciais para otimizar o impacto do deloading, e a prática deve ser ajustada com base na percepção de fadiga e no ciclo de treinamento. Estudos recentes validam a importância dessa estratégia, destacando que a deload, quando bem planejada, promove consistência e longevidade no treinamento (Rogerson et al., 2024; Bell et al., 2023).
Referências
Rogerson, D., Nolan, D., Androulakis Korakakis, P., Immonen, V., Wolf, M., & Bell, L. (2024). Deloading Practices in Strength and Physique Sports: A Cross-sectional Survey. Sports Medicine - Open.
Coleman, M., Burke, R., Augustin, F., Piñero, A., et al. (2024). Gaining More from Doing Less? The Effects of a One-week Deload Period During Supervised Resistance Training on Muscular Adaptations. PeerJ.
Bell, L., Strafford, B. W., et al. (2023). Integrating Deloading into Strength and Physique Sports Training Programmes: An International Delphi Consensus Approach. Sports Medicine - Open.
Bell, L., et al. (2022). You can't shoot another bullet until you've reloaded the gun”: Coaches' perceptions, practices and experiences of deloading in strength and physique sports. Frontiers in Sports and Active Living.
Meeusen, R., et al. (2013). Prevention, Diagnosis, and Treatment of Overtraining Syndrome: Joint Consensus Statement of the European College of Sport Science and the American College of Sports Medicine. Medicine & Science in Sports & Exercise.
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